As
duas primeiras consulta foram basicamente eu reclamando especificamente sobre o
problema atual que eu estava tendo e como eu estava me sentindo de trabalhar lá,
bem como sobre os problemas familiares que eu estava.
Na terceira consulta, o
terapeuta disse que queria me conhecer melhor e pediu para eu contar a minha
história de vida pra ele.
Eu contei da seguinte forma: eu nasci em 1992, morava
perto do Estádio Olímpico, não lembro quase nada da minha infância. Com 6 anos
eu fui estudar numa escola franciscana, que eu gostava. Quando eu tinha 9 anos,
os meus pais se separaram e eu fui estudar em outra escola. Eu não gostava dessa
outra e eu ia mal em matemática. Aí no ensino médio, eu fui estudar numa escola
pública que eu gostava bastante, o pessoal lá era legal e eu ia bem nas aulas.
Na hora de escolher o que estudar no vestibular, eu acabei escolhendo História,
porque eu sempre gostei muito de História. Mas, no fim, porque todo mundo achava
que era uma péssima ideia fazer licenciatura, eu fui cursar Psicologia, porque
era um curso das humanas. Aí me formei, fui trabalhar nesse lugar que eu não
gosto.
Mesmo quando o terapeuta me pediu pra elaborar mais sobre, eu não
conseguia. Eu ficava muito nos fatos, "aconteceu isso, depois aquilo", e não
muito em o que eu fazia, pensava e sentia.
Por questões de $$$, eu acabei
parando a terapia, mas desde então eu tenho pensado sobre isso. Sobre quem eu
sou, o que eu vivi.
É muito difícil pra mim pensar nas coisas cronologicamente,
colocar tal coisa numa data. Eu lembro de alguns objetos, eventos e pessoas, mas é muito
desconectado de mim. É quase como se eu soubesse o que aconteceu por ter
escutado sobre de terceiros, não como se eu tivesse vivido as coisas.
Dessa
forma, eu decidi fazer um diário e registrar as minhas lembranças. Na ordem que
eu for lembrando, do jeito que eu for lembrando. Provavelmente esse blog vai
consistir em textos curtos, que eu vou ir complementando se eu conseguir lembrar
mais sobre.
Muito provável que eu me contradiga com frequência, porque eu não
sei muito bem o que aconteceu. E mais importante, eu acredito que existem
lembranças que eu passei décadas evitando pensar sobre.
Tem coisas que eu começo
a pensar sobre e é como se eu estivesse vendo um vulto na distância, que escapa
antes que eu consiga enxergar com exatidão o que é. Mesmo agora, que eu
ativamente estou tentando lembrar sobre as coisas, é quase como se elas fugissem
de mim.
Então, vou fazer esse experimento.
Não imagino que ninguém vai ler isso
algum dia, mas, ao mesmo tempo, uma vez que algo está na internet, está pra
sempre na internet. Talvez essa seja uma tentativa minha também de imortalizar a
minha vida medíocre. Grandes pessoas fazem feitos grandes para serem lembradas.
Eu, na minha insignificância, opto por deixar registrado virtualmente essa
tentativa minha de conhecer a mim mesma.